Psicopedagogia busca integração de crianças e adolescentes

“Integrar a criança ou o adolescente ao mundo”, esse é o principal objetivo a ser perseguido pelos psicopedagogos, seja na atuação em consultórios ou em instituições, define Cristina Bachert, doutora em Psicologia e professora da Pós-Graduação em Psicopedagogia da Universidade de Sorocaba (Uniso).

“A questão a ser discutida não é a inclusão. Se você tem um grupo e coloca uma pessoa no mesmo espaço que este grupo original, você está incluindo essa nova pessoa. Mas isto não significa que ela faça parte do grupo. Ela pode apenas estar dividindo o mesmo espaço”, destaca Bachert. “Por este motivo o objetivo é integrar. Proporcionar para a criança ou para o adolescente a possibilidade de pertencimento a um grupo. Esse sentimento é fundamental”, conclui.

Desafio do ambiente escolar

Para Cristina, a escola tem como desafio organizar um espaço coletivo onde a maior parte dos recursos e espaços possa ser de uso comum. “Na escola, todos devem compartilhar tempo, material, a atenção de professores e de colegas”.

“Quando temos um estudante portador de alguma deficiência ou de algum transtorno de aprendizagem como membro da classe, a estratégia não é criar um ‘universo paralelo’ para ele, mas aproximá-lo progressivamente dos colegas com o intuito de que todos caminhem juntos, mesmo que com velocidades e tempos diferentes. O caminhar é o mais importante porque está baseado em valores como cooperação e respeito. Cria-se, assim, a partir da integração, um ambiente único, condição deveras enriquecedora para a formação de todos os envolvidos, que têm a oportunidade de aprender a conviver em um ambiente plural e diverso”, avalia a professora.

Cristina também vê a integração como uma possibilidade enriquecedora para todos os envolvidos. “Temos consciência de que a riqueza da diversidade é um fator que interfere na qualidade da formação de alunos e de professores. Trata-se de uma força que as escolas possuem e deve ser potencializada na medida em que é promovida a integração de todos os seus atores”.

“Aprender é motivador e é desestabilizador”

            Cristina Bachert explica que aprender pode ser algo motivador em diferentes graus, conforme o estudante identifica possibilidades de aplicação do que está sendo estudado em seu cotidiano, condição que pode melhorar a compreensão dele sobre os acontecimentos que observa. Essa condição está diretamente relacionada a outro fator que pode favorecer ou dificultar a aprendizagem: o engajamento do estudante à tarefa. “Isso porque ele sente curiosidade e quer saber mais sobre o tema”, destaca. Lembrando que o engajamento pode ser decorrência de identificação com o assunto.

Este prazer em aprender também tem um componente que é desestabilizador. “Quando estamos aprendendo algo novo temos de rever conhecimentos já adquiridos e precisamos abrir mão de algumas ‘certezas’ e neste sentido o novo desestabiliza, pois o estudante não tem certeza se sua mobilização atenderá à nova demanda”.

No caso das crianças e dos adolescentes acompanhados por um psicopedagogo, parte do seu trabalho será considerar o perfil do estudante, incluindo aspectos ligados às questões afetivas, que serão abordadas no processo de intervenção quando o foco é aprender a aprender. “As técnicas de ensino estão na competência dos professores, mas o psicopedagogo foca em habilidades considerando também aspectos emocionais e afetivos do seu paciente e que poderão ser trabalhados de maneira mais individualizada”. “Conforme possa trabalhar em parceria com a escola, compartilhando com coordenação e professores algumas estratégias, os processos de ensino e de aprendizagem podem ganhar em qualidade. Isso porque, além do acompanhamento de um estudante, o foco recai na integração dele com seus pares, favorecendo o sentimento de pertencimento ao grupo. Com isso, esse estudante poderá se perceber como alguém capaz de resolver os problemas propostos, contribuindo com os colegas e tendo seu reconhecimento. Isso fortalece a autoestima, o sentimento de autoeficácia e a motivação para aprender tanto do aluno atendido quanto de seus colegas. E o professor também fica fortalecido, pois conseguiu atingir seus objetivos”, conclui.